Hoje fazem 4 meses que embarquei rumo a Angola, e nesses quatro meses aqui vi e vivi muitas coisas, mesmo em tão pouco tempo...
Mas o mais legal de tudo, é que nesses 4 meses tenho aprendido tanta, mas tanta coisa!
E não to falando de um novo português ou de uma nova cultura. Falo de coisas que tenho aprendido que tem me feito melhor e mais consciente em muitas coisas...
Um exemplo foram os 3 meses que fiquei aqui sem comprar nada. Sem comprar um brinco sequer... Por que além de tudo cá ser muito caro, não me fez falta sabe? E confesso que quanto estive no Brasil, comprei bem menos do que compraria 3 meses antes... E tudo eu pensava 300 vezes se eu realmente precisava daquilo. Não é só questão de valorizar o dinheiro, é algo muito mais profundo que tem a ver com ver e conviver com pessoas que não tem uma coisa super básica pra mim, mas que pra essas pessoas é muito mais valioso que qualquer tarde de compras num shopping: A ÁGUA.
Foto da Internet |
Pois é meus amigos. Eu não quero sensibilizar ninguém, muito menos mover alguém a mudar o mundo. Só quero mesmo dividir coisas que aconteceram comigo e que me levou a pensar muito sobre a água, e a mudar muito meu jeito de lidar com esse líquido tão precioso.
Há tanto tempo ouço na escola, jornais, documentários que um dia a água do mundo irá acabar... Você acredita? Eu ainda não acredito. Mas acredito e VEJO o estrago que a má distribuição e a má administração desse meio de vida causa na rotina das pessoas...
Todos os dias quando vou aos bairros, logo cedo, vejo crianças e mulheres carregando baldes e baldes de água na cabeça pra garantir a limpeza, alimentação e matar a sede do dia. Sim, esse é um processo diário. E nos quintais das casas, vejo bacias de louça suja, uma bacia de água para enxaguar e uma bacia com sabão... Sem desperdício. As roupas também são lavadas num esquema semelhante.
Banhos de chuveiros? Existem pessoas aqui que nunca tiveram (e receio que nunca terão) um chuveiro, ou mesmo uma torneira em casa. Banhos de caneca, frios. Descargas também não há. E essa água não é potável, além de não se ter nada na "mão", corre-se o risco de contaminação, pois nem todos tem a noção de que é sério o assunto e que é indispensável ferver a água antes de tomá-la.
E o problema da água é só onde há pobreza? Acho que posso dizer que da água canalizada sim, porém, mesmo em bairros mais desenvolvidos e ricos, há dias em que há falta de água durante um dia todo, ou até mais.
Pois é, e diante disso tudo continuei a viver normalmente. Por que aqui onde moro há água, as vezes falta, mas sempre tem. Até que ontem e hoje tive o privilégio de oferecer refeições pra amigos que vivem nesses bairros, e aconteceram duas coisas muito SIMPLES e SINGELAS que me tocaram e me fizeram pensar "o que eu estou fazendo com o conforto que tenho?".
Primeiro estava a descongelar uma carne na pia, com a torneira aberta, e a água a correr solta pela carne e pia e ralo a abaixo - que me atire a primeira pedra quem nunca fez isso!. E uma das meninas me disse "Quissé, a água está indo embora", na hora expliquei que estava a descongelar a carne. Mas depois pensei o quão verdadeiro e sério foi o que ela falou. Eu estava desperdiçando a toa uma porção de água que era tão difícil pra chegar a casa dela...
E hoje, foram lavar a louça depois do lanche, e me perguntaram se não tinha como tapar o ralo, pra segurar um pouco a água enquanto lavavam os pratos - assim como fazem com as bacias.
Ok, ok... Há quem vai dizer que agora a Quissé resolveu compadecer-se dos problemas da humanidade
Porém hoje vivo muito próxima dessa realidade que me afeta, me ajuda, me ensina e me abre os olhos pra coisas tão simples e tão essenciais a vida... Nesse país tão rico em rios, mas onde a água não chega a todos!...
Nenhum comentário:
Postar um comentário